Mineradoras em Moçambique ameaçam aves migratórias que passam pelo Vale do Rift
As aves migratórias que passam pela região do Vale do Rift, principal linha de migração das espécies provenientes da Europa e Ásia, estão ameaçadas pelas mineradoras instaladas em Moatize, no centro de Moçambique, alertou hoje um investigador moçambicano. Em declarações hoje à Lusa, o investigador do Museu de História Nacional de Moçambique, Carlos Bento, disse que o estabelecimento de mineradoras naquela região moçambicana está a perigar as aves que usam a zona de Moatize como "ponto de repouso" durante as suas deslocações. "A zona de Moatize está muito próximo do Vale do Rift, principal linha de migração das espécies que veem da Europa e Ásia que, quando começam o nosso inverno, passam por aquelas zonas", disse Carlos Bento. Segundo o investigador, as aves migratórias que estão em risco "não são somente as de Moçambique, mas de todo mundo", que "antigamente estavam habituadas a passar por lá para descansar", mas que "agora já não têm sítios disponíveis", e "têm que procurar outros lugares para fazerem o descanso e continuarem a jornada". Na última década, Moçambique descobriu enormes quantidades de carvão, sobretudo em Moatize, que transformou o país num dos maiores produtores de recurso minerais. Moçambique detém também recursos como o gás natural, as areias pesadas e reservas de petróleo. Mas, a atividade da indústria extrativa tem sido criticada por organizações de defesa do ambiente, pelo seu impacto sobre milhares de famílias, que são impelidas a deslocarem-se das suas zonas de origem, e a retirada também da fauna, degradando a biodiversidade. "Nós estivemos lá (em Moatize) nos primeiros anos antes de desbravarem, mas agora não há nenhuma daquelas espécies que víamos lá regularmente. E as outras que dependiam da vegetação circunvizinha abandonaram e deslocaram-se para outros locais", exemplificou o investigador do Museu Nacional de História em Moçambique. Segundo Carlos Bento, o risco da destruição da fauna obriga as espécies a fugirem daqueles locais e procurar refúgio em outras regiões, mas muitas destas permanecem desconhecidas porque, em Moçambique, há falta de estudos concretos sobre a migração dessas espécies. "Os animais são obrigados a fugir daqueles locais e tentar albergar-se em outros e ficam vulneráveis aos predadores ou as pessoas, se forem aves comestíveis. Evidentemente (por falta de estudo) não podemos saber agora, só se talvez formos ao terreno fazer uma reavaliação para sabermos para onde se deslocaram", afirmou Carlos Bento. Moçambique ratificou a Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias Pertencentes à Fauna Selvagem, mas este instrumento não prevê penalizações. "Se realmente houvesse uma forma de sancionar o país talvez fosse a mais correta e se calhar pegássemos o assunto da biodiversidade com mais seriedade, mas como não acontece nada ao nível internacional isso não preocupa muito as pessoas cá", considerou o investigador. Para Carlos Bento, "está a faltar fazer-se o ranking das mineradores, procurar-se saber se a mineradora está a agir de uma forma ambientalmente aceitável e (caso se conclua que não), a partir daí, banir os seus produtos vendidos fora do país". Também "há muito trabalho" que deve ser feito para preservar a biodiversidade, exercício que podia ser auxiliado pelos "media" e pelo setor da Educação, inserindo estes conteúdos nos materiais académicos acrescentou. Fonte: www.rpt.pt |